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Gabrielle Guido

Destinatário: minha raiva

Honestamente não sei o que fazer com você.

Sei que você é tão minha quanto meus dedos, olhos, pelos e órgãos de dentro, mas você me canibaliza.

Nunca entendi o que fazer com você. Ouço o tempo todo que não devo te jogar fora de qualquer jeito, mas também não posso te ignorar porque você infla, infla, infla e explode.

Não sei como sentir você. Não sei como te levar na vida sem corroer minhas entranhas. Talvez seja algo químico que foi explicado em alguma aula do ensino médio que fiz questão de perder. Nem sei se é possível, mas queria transformar um ácido corrosivo em um cítrico saudável.

Talvez seja um mecanismo, um truque simples, um exercício que não me ensinaram e que não tenho livro nem mapa para descobrir sozinha o que fazer.

Você, desgraçada, fecha meus olhos, me faz tremer, ficar quente. Ninguém encontra equilíbrio tremendo. Seja de ódio, de felicidade ou de você.

Não sei como te transformar em combustível. Não sei sentir você sem doer. Falar com você é falar comigo, eu não esqueço disso. Será que não sei ser, então?

Qual será o estado terminal da raiva? quando os olhos desanuviam? quando volto a medir 37 graus?

Vejo você como uma tempestade. Daquelas clássicas, sabe? Intensa, dura e tão necessária quanto o sol. Minha meta é simples: estar viva quando o tempo abrir.

Você não cabe na dicotomia. E justo eu que falo tanto da complexidade do mundo sinto você dividida em dois lados. Só te sinto amarga, queria que fosse ao menos agridoce.

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